Você muda de direção, mas a tempestade de areia o persegue. Você se vira novamente, mas a tempestade se ajusta. Repetidamente você faz esse jogo, como uma sinistra dança com a morte pouco antes do amanhecer. Por quê? Porque essa tempestade não é algo que veio de longe, algo que não tem nada a ver com você. Essa tempestade é você. Algo dentro de você. Então tudo que você pode fazer é ceder, entrar direto na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para que a areia não entre, e caminhar por ela, passo a passo. Nela, não há sol, nem lua, nem direção, nem noção de tempo. Apenas areia branca e fina girando no céu como ossos pulverizados. Esse é o tipo de tempestade de areia que você precisa imaginar. E você realmente terá que superar essa tempestade violenta, metafísica e simbólica. Não importa o quão metafísico ou simbólico possa ser, não se engane: ela vai cortar a carne como mil lâminas de barbear. Nela, as pessoas vão sangrar e você vai sangrar também. Sangue quente e vermelho. Você vai tocar o sangue com as mãos, seu próprio sangue e o sangue de outros. E assim que a tempestade passar, você não vai se lembrar de como você sobreviveu, de como conseguiu sobreviver. Você nem vai ter certeza, de fato, se a tempestade realmente acabou. Mas uma coisa é certa. Quando você sair da tempestade, não será a mesma pessoa que entrou. É disso que se trata esta tempestade. Fonte: MURAKAMI, H. Kafka on the Shore. London: Vintage Classic, 2014. Assinale a alternativa que mais suscintamente sintetize a relação entre a ideia central do texto de Haruki Murakami e o conceito de metafísica: Opções de pergunta 10: A metafísica nos ajuda a reagir construtivamente aos fatos imponderáveis da vida. A metafísica é um sopro de paz em meio às tempestades da vida. A metafísica opera de forma intuitiva; mesmo assim, nos dá orientações claras para a vida. A metafísica é uma forma racional de encarar as adversidades da vida. A metafísica nos serve de conforto e contribui para diminuir nossa dor existencial