Leia o fragmento a seguir, pertencente à obra Marília de Dirceu.
Lira XIX
Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marilia, adoro
A tua formosura.
Amor na nunha ideia te retrata;
Busca extremoso, que eu assim resista
A dor imensa, que me cerca, e mata.
Quando em meu mal pondero,
Então mais vivamente te diviso:
Vejo o teu rosto, e escuto
A tua voz, e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passos,
Eu beijo a tibia luz em vez de face,
E aperto sobre o peito em vão os braços
Conheço a ilusão minha
A violência da mágoa não suporto;
Foge-me a vista, e caio,
Não sei se vivo, ou morto.
Enternece-se Amor de estrago tanto;
Reclina-me no peito, e com mão terna
Me limpa os olhos do salgado pranto.
Depois que represento
Por lago espaço a imagem de um defunto,
Movo os membros, suspiro,
E onde estou pergunto.
Conheço então que Amor me tem consigo,
Ergo a cabeça, que inda mal sustento,
E com doente voz assim lhe digo:
"Se queres ser piedoso,
"Procura o sitio em que Marilia mora,
"Pinta-lhe o meu estrago,
"E ve, Amor, se chora.
"Se lágrimas verter, se a dor a arrasta,
"Uma delas me traze sobre as penas,
"E para alivio meu só isto basta."
Tomás António Gonzaga,
Marilia de Dirceu
a) Com base nas características típicas do Arcadismo, indique um motivo pelo qual a palavra "Amor" aparece grafa-
da com inicial maiúscula. Justifique apontando os efeitos que essa escolha acarreta no texto.
b) Pode-se dizer que a lira em questão pertence a qual das partes da obra Marilia de Dirceu? Justifique com elemen-
tos do texto.
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