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Com o mundo nas mãos Bernardo tem cinco anos, mas já sabe da existência do Japão. E aponta para o céu com o dedo: — É atrás daquele teto azul que fica o Japão. Tenho de explicar-lhe que aquilo é o céu, não é teto nenhum. — Mas então o céu não é o teto do mundo? — Não: o céu é o céu. O mundo não tem teto. O azul do céu é o próprio ar. O Japão fica é lá embaixo — e apontei para o chão: — O mundo é redondo feito uma bola. Lá para cima não tem país mais nenhum não, só o céu mesmo, mais nada. Ele fez uma carinha aborrecida, um gesto de desilusão: — Então este Brasil é mesmo o fim do mundo. Daqui pra lá não tem mais nada... Difícil de lhe explicar o que até mesmo a mim parece meio esquisito: o mundo ser redondo, o Japão estar lá embaixo, os japoneses de cabeça pra baixo, como é que não caem? Às vezes, andando na rua e olhando para cima, eu mesmo tenho medo de cair Na primeira oportunidade compro e trago para casa um mapa-múndi: um desses globos terrestres modernos, aliás de fabricação japonesa, feito de matéria plástica e que se enchem de ar, como os balões. O menino não lhe deu muita importância, quando apontei nele o Japão e a Inglaterra, o Brasil, os países todos. Limitou-se a fazê-lo girar doidamente, aos tapas, até que se desprendesse do suporte de metal. Logo se dispôs a sair jogando futebol com ele, não deixei. Consegui convencê-lo a ir destruir outro brinquedo, o secador de cabelo da mãe, por exemplo, que faz um ventinho engraçado — e assim que me vi só, tranquei-me no escritório para apreciar devidamente a minha nova aquisição. [...] SABINO, Fernando. Com o mundo nas mãos. In: Para gostar de ler: crônicas. São Paulo: Ática, 1979. O menino ficou tristonho porque soltou o globo do suporte de metal. foi proibido de jogar futebol com o globo. compreendeu que os japoneses ficavam de cabeça para baixo. passou a acreditar que o Brasil era o país mais distante do mundo.
Sagot :
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