Questão 3. Assim como, para Rée, existem dois tipos de preocupação com o que os outros pensam de nós – uma baseada no interesse próprio, e outra na vaidade – há também dois tipos de inveja: (1) a que se dirige contra a capacidade dos outros de atenderem seus interesses próprios (instintos de autoconservação e reprodução) e (2) a que se dirige contra suas capacidades de satisfazerem suas vaidades. Assim como a inveja por interesse próprio, a inveja por vaidade pressupõe, no mínimo, três pessoas: “1) O invejoso, isto é, aquele que tem inveja do fato de que alguém é mais agradado ou admirado do que ele, 2) o invejado, 3) a pessoa ou as pessoas, que preferem esse àquele”. O prazer de ser admirado e invejado e o desprazer de sentir inveja ou ser menosprezado têm “por pressuposto a comparação de algo relativamente maior com algo relativamente menor”. Por isso, “ser invejado é uma sensação altamente prazerosa”, pois pressupõe o reconhecimento do outro de que ele se sente abaixo do invejado. Justamente porque “não quer admitir que se encontra atrás de outra pessoa (...) o invejoso costuma esconder sua inveja”. Nesse capítulo, Rée também se interroga: por que “a vaidade costumou ser repreendida pelos homens”? Para ele, essa repreensão se deve a três motivos principais: “1) Porque ela coloca os homens em uma relação inamistosa uns contra os outros, e os torna dissimuladores, 2) porque ela própria concede fortes e inúmeros sentimentos de desprazer por causa da dor com o fato de ser desagradado, e etc., e 3) porque o vaidoso perde a objetividade”. Essa última causa da reprovação usual da vaidade consiste no fato de que o homem vaidoso perde, frequentemente, o interesse “pelos objetos da natureza, pela arte, pela filosofia e pelas ciências” por eles mesmos, pois passa a se dirigir a esses objetos apenas “porque quer alcançar a admiração e agradar por causa do conhecimento delas”. Se esse é o único motivo de seu interesse, provavelmente ele não conseguirá conhecer nada fundamentalmente, nem chegará à “fruição intelectual,