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A atitude suspeita (Luis Fernando Veríssimo)
Sempre me intriga a notícia de que alguém foi preso “em atitude suspeita”. É uma frase cheia de significados. Existiriam atitudes inocentes e atitudes duvidosas diante da vida e das coisas e qualquer um de nós estaria sujeito a, distraidamente, assumir uma atitude que dá cadeia! - Delegado, prendemos este cidadão em atitude suspeita. - Ah, um daqueles, é? Como era a sua atitude? - Suspeita. - Compreendo. Bom trabalho, rapazes. E o que é que ele alega? - Diz que não estava fazendo nada e protestou contra a prisão. - Hmm. Suspeitíssimo. Se fosse inocente não teria medo de vir dar explicações. - Mas eu não tenho o que explicar! Sou inocente! - É o que todos dizem, meu caro. A sua situação é preta. Temos ordem de limpar a cidade de pessoas em atitudes suspeitas. - Mas eu estava só esperando o ônibus! - Ele fingia que estava esperando um ônibus, delegado. Foi o que despertou a nossa suspeita. - Ah! Aposto que não havia nem uma parada de ônibus por perto. Como é que ele explicou isso? - Havia uma parada sim, delegado. O que confirmou a nossa suspeita. Ele obviamente escolheu uma parada de ônibus para fingir que esperava o ônibus sem despertar suspeita. - E o cara-de-pau ainda se declara inocente! Quer dizer que passava ônibus, passava ônibus e ele ali fingindo que o próximo é que era o dele? A gente vê cada uma... - Não senhor delegado. No primeiro ônibus que apareceu ele ia subir, mas nós agarramos ele primeiro. - Era o meu ônibus, o ônibus que eu pego todos os dias para ir para casa! Sou inocente! - É a segunda vez que o senhor se declara inocente, o que é muito suspeito. Se é mesmo inocente, por que insistir tanto que é? - E se eu me declarar culpado, o senhor vai me considerar inocente? - Claro que não. Nenhum inocente se declara culpado, mas todo culpado se declara inocente. Se o senhor é tão inocente assim, por que estava tentando fugir? - Fugir, como? - Fugir no ônibus. Quando foi preso. - Mas eu não estava tentando fugir. Era o meu ônibus, o que eu tomo sempre! - Ora, meu amigo. O senhor pensa que alguém aqui é criança? O senhor estava fingindo que esperava um ônibus, em atitude suspeita, quando suspeitou destes dois agentes da lei ao seu lado. Tentou fugir e... - Foi isso mesmo. Isso mesmo! Tentei fugir deles. - Ah, uma confissão! - Porque eles estavam em atitude suspeita, como o delegado acaba de dizer. - O quê? Pense bem no que o senhor está dizendo. O senhor acusa estes dois agentes da lei de estarem em atitude suspeita? - Acuso. Estavam fingindo que esperavam um ônibus e na verdade estavam me vigiando. Suspeitei da atitude deles e tentei fugir! - Delegado... - Calem-se! A conversa agora é outra. Como é que vocês querem que o público nos respeite se nós também andamos por aí em atitude suspeita? Temos que dar o exemplo. O cidadão pode ir embora. Está solto. Quanto a vocês... - Delegado, com todo o respeito, achamos que esta atitude, mandando soltar um suspeito que confessou estar em atitude suspeita é um pouco... - Um pouco? Um pouco? - Suspeita.
✨Atividade✨
1- Em que fato do cotidiano o narrador se baseou?
2- O fato narrado pode ser considerado real ou imaginário?
- O cronista relata de forma artística um fato lido no noticiário ou observado no cotidiano. - 3- Quem conta a história é um narrador-personagem ou narrador observador? Esclareça sua resposta. 4- Nas crônicas, o narrador às vezes fica ausente e a ação se desenvolve pelo diálogo entre as personagens. Nessa crônica, o narrador está sempre presente? Esclareça sua resposta.
5- No texto foi empregada a variedade padrão da língua, mas há alguns momentos de informalidade. Dê exemplos de linguagem informal no texto e explique seu emprego.
- No discurso direto, há a fala do personagem; no discurso indireto, o narrador conta o que o personagem disse. - 6- Em Atitude suspeita ocorre que tipo de discurso? Dê um exemplo. 7- Qual é o efeito produzido na narrativa com o emprego desse discurso?
- A crônica pode estar mais próxima da literatura – e nesse caso a linguagem é subjetiva e pessoal – ou do jornalismo – quando a linguagem é objetiva e impessoal. - 8- Na crônica em análise os fatos são narrados de maneira mais literária ou jornalística? Esclareça sua resposta. 9- Em que espaço se passa a ação?
10- Quanto tempo dura a ação?
Sagot :
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