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Fazia tempo que eu não via Malhação, na Rede Globo. Admito que as pequenas aflições adolescentes que movem os personagens adolescentíssimos ao longo da adolescentésima trama não constituem o melhor atrativo para os meus olhos. Aquilo me cansa. Com o agravante de que nunca termina. As histórias se sucedem sem que a novela tenha fim, num prolongamento interminável desse estado do organismo, a adolescência, que parece ser o próprio estado da civilização. Vivemos uma era adolescente. Vivemos uma era que perdeu a inocência da infância sem nunca ter atingido a maturidade. Uma era inconstante, descontrolada em seus próprios hormônios, ainda mal achada dentro de seu próprio tamanho. Uma era cujo ideal de beleza é uma molecona magrela e, de preferência, anoréxica. Uma era cujo ideal de coragem é um super-herói esguio e carente como um Homem aranha, ou um besourão abobado como um Schwarzenegger, ou um político opaco feto Georg W. Bush. Uma era cujo ideal de justiça é a vingança quente. Cujo ideal de verdade é aquilo que se pode testemunhar com uma câmera de TV. De preferência sensacionalista. Vivemos uma era em que a adolescência começa aos 4 anos de idade e só termina uns dois séculos depois da morte do sujeito. O corpo apodrece no cemitério, mas a adolescência perdura com a memória do morto. É por isso, e só por isso, que se diz que Elvis não morreu. O adolescente que ele representa é quem não morreu. De sorte que eu nunca me interessei muito por Malhação. Até que um dia...
Vi a cena por acaso. Vi e parei. Estavam lá todos eles, aquele deles, uma temível legião deles dentro da sala de aula. O que eles faziam? Eles tagarelavam e elas matraqueavam ininterruptamente, numa compulsão oral incontida e transbordante. Eles e elas faltavam não apenas como falam as pessoas comuns. Falavam pelas orelhas, pelos cabelos, ou, como se diz, pelos cotovelos. Enquanto isso, o professor procurava dar sua aula – e tudo o que conseguia um fundo musical para o ruidoso elenco infanto-juvenil.
Não importa a história. Era qualquer coisa em torno de um rapazola dividido entre uma guria e uma moçoila. Uns opinavam em prol de uma, outros realçavam as virtudes da outra. Naquele capítulo, o assunto do rapazola dividido monopolizou todas as cenas. O que não deveria ser visto como algo surpreendente. Sempre, nas novelas, toda a narrativa se desenrola conforme uns personagens falam da vida dos outros – e não de qualquer aspecto da vida alheia, mas especificamente dos aspectos sexual e afetivo. A narrativa da novela é, por definição, a narrativa da fofoca. Trabalho, estudo, religião, arte, essas esferas em que de fato a vocação humana pode se realizar, não passam de esferas coadjuvantes. Personagens de novela não trabalham, não estudam, não lêem, não criam – apenas futricam. Ai, você viu o que a fula fez?; Oh, coitado do sicrano!; Eu se fosse ele não permitiria e assim por adiante. O curioso é que vivem suas próprias desventuras amorosas como se encenassem uma futrica. A intimidade é uma grande futrica.
Tudo bem, eu até que compreendo isso. É da natureza do melodrama. Mas que é triste ver um professor fazendo fundo musical, isso é triste. Acho que eu vou ficar mais um tempo sem ver Malhação.
(Eugênio Bucci – Revista Nova Escola – Agosto 2002).

1. Por que o cronista deixou de assistir à novela malhação?

2. Segundo o autor, por que as novelas, em especial a “Malhação”, parecem-lhe pouco atrativas?

3. Qual a maior crítica do autor em relação à sociedade?


RESpOSTAS GRANDES.


Sagot :

Resposta:

1 pois ficou enjoativo

2 pois mostra parte da realidade do Brasil

3 pois pessoas sao ridiculamente ruins

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