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Olho no espelho
E não me vejo
Não sou eu
Quem lá está
Senhores
Onde estão os meus tambores
Onde estão meus orixás
Onde Olorum
Onde o meu modo de viver
Onde as minhas asas negras e belas
Com que costumava voar
Olho no espelho
E não me vejo…(…)
Quero de volta
Meu Pai Olorum
Em seu esplendor sem par
Quero de volta
O meu modo de viver
Quero de volta
As minhas asas …(…)
Quem lá está Séculos de destruição
Sobre os ombros cansados
Estou eu a carregar
Confuso sem norte sem rumo
Perdido de mim mesmo
Aqui neste lado do mar
Um dia no entanto senhores
Eu hei de me reencontrar
▪️1-a) O paradoxo no poema “Eclipse” de Carlos Assunção é a aparente falta de nexo ou de lógica; contradição encontrada na repetição da frase
“Olho no espelho
E não me vejo /
Não sou eu /
Quem lá está”.
O eu-lírico olha para si mesmo, mas não se reconhece. Ele sente que perdeu sua identidade há uma desconexão com a própria identidade ele agora é um escravo .
▪️b) Os elementos culturais que foram usados para caracterizar a sua identidade negra no poema são :
➖a referências à religião afro-brasileira,
➖os “tambores”, os “orixás” e “Olorum”.
➖ as “asas negras e belas” é uma referência a beleza, força e liberdade que foi retirada dele .
▪️c) O verso que melhor sintetiza o desencontro com a própria identidade é
“Não sou eu / Quem lá está”.
Este verso expressa o que eu-lírico percebe sobre a própria imagem refletida no espelho, ele não sabe mais quem ele é .
▪️A imagem poética das “asas negras e belas” é uma metáfora para a liberdade, beleza e força que ele possuía quando estava livre
No entanto, na última estrofe, o eu-lírico se descreve carregando
“séculos de destruição / Sobre os ombros cansados”,
Isso sugere toda a opressão e o sofrimento que os africanos enfrentaram ao longo da sua história de escravidão
▪️No Dicionário Houaiss, “eclipse” é um fenômeno em que a luz de um corpo celeste é obscurecida pelo movimento de outro corpo entre ele .
O termo “eclipse” pode ser interpretado no poema como a perda da
identidade étnica do eu-lírico.
Adendo
“ A poesia Elipse se apresenta como uma fundação tardia do Brasil. Ela é uma aposta ética e política num outro passado e num outro presente, no qual os negros finalmente teriam visibilidade afirmativa.
Atrever-se a falar, a pensar e a criar como faz este poeta é reverter a história escravocrata na qual, como um modo extremamente eficaz de dominação colonial, o silêncio dos oprimidos foi naturalizado e a manifestação dos negros impedida por meio da violência tanto física como simbólica. “
( Carlos de Assumpção )
