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VIEIRA JÚNIOR, Itamar. (2019), Torto Arado. São Paulo: Todavia. Leio como quem sente fome de alma. Por essa razão, tenho o hábito de iniciar conversas com pedidos de indicação de leituras. Minha rede de afeto também é trançada por livros compartilhados, de todos os gêneros e sabores. Um dia, pedi a uma dessas amigas com as quais troco autores, uma sugestão de leitura. Cheguei assim a Torto Arado. Torto Arado, de Itamar Vieira Junior[1], foi publicado pela Editora Todavia em 2019. Acima de tudo, é livro que é indicado de amiga para amiga para amiga. É leitura que entra debaixo da pele e se funde na gente. A trama se passa na Fazenda Água Negra, no Sertão da Bahia, no início dos anos de 1960. Nela vivem trabalhadores descendentes de uma escravidão abolida muito no papel e pouco no cotidiano – realidade que perdura até hoje em diversas regiões do Brasil[2]. E é a história dessas trabalhadoras e desses trabalhadores que o livro apresenta. Bibiana e Belonísia são as personagens principais do romance, composto majoritariamente por figuras femininas. Irmãs, vão desvelando a vida aprendendo a unir as duas vozes nas cordas vocais de uma só, por razões que merecem ser confidenciadas diretamente pelo livro. Torto Arado é livro-transporte. Ao abrir as páginas, já não via mais quarto ao meu redor. Eu era Bibiana, irmã de Belonísia, e via à minha frente a mala de couro de caititu da minha avó Donana, com manchas e suja de terra, cena que inaugura o Torto Arado. Sentia em meu corpo a adrenalina transgressora de quem se arrisca a mexer em objeto proibido. A narrativa é revezada entre as duas irmãs – na verdade, entre três personagens, porque o último capítulo traz uma surpresa de voz – mas entrelaça as narrativas de muitas gentes. É trama de desigualdade, porque os donos da terra não são os que pegam na enxada. É trama de violências, da fome, da falta, da seca, da agressão familiar, da perda, do medo. Sobretudo, é história de forças que brotam do solo, história de ancestralidade, luta e união. Toda a complexa rede de rela