MIA COUTO
Levantou-se para lhe chegar a tigela com a papa
de milho. Quando se virou já ele estava de pé, pro-
curando a pi. Pegou nela e arrastou-se para fora de
casa. De dois em dois passos parava para se apolar.
- Marido, não vai assim. Come primeiro.
Ele acenou um gesto bêbado. A velha insistiu:
Você está esquerdear, direitar. Descansa lá um
bocado.
Ele estava já dentro do buraco e peparava-se,
para retomar a obra. A febre castigava-lhe a teimo-
sia, as tonturas dançando com os lados do mundo.
De repente, gritou-se num desespero:
- Mulber, ajuda-me.
Caiu como um ramo cortado, uma nuvem ras-
gada. A velha acorreu para o socorrer.
- Estás muito doente.
Puxando-o pelos braços ela trouxe-o para a.
esteira. Ele ficou deitado a respirar. A vida dele
estava toda ali, repartida nas costelas que subiam e
desciam. Neste deserto solitário, a morte é um sim-
ples deslizar um recolher de asas. Não é um ras-
go violento como nos lugares onde a vida brilha.
Mulber - disse ele com voz desaparecida!
- Não lhe posso deixar assim.
-
Estás a pensar o quê?.
- Não posso deixar aquela campa sem proveito,
Tenbo que matar-te.
É verdade, marido. Você teve tanto trabalho
para fazer aquele buraco. É uma pena ficar assim.
Sim, hel-de matar você; boje não, falta-me o
corpo.
Ela ajudou-o a erguer-se e serviu-lhe uma chá-
vena de chá,
- Bebe, homem. Bebe para ficar bom, amanhã
precisas da força.
Fazer resumo do texto ​