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Aquiles e a verruga
(Roberto Gomes)
Foi uma paixão fulminante. Um encontro casual numa sorveteria, uma noite num bar, um fim de semana
no litoral. Estavam apaixonados. Duas semanas depois, resolveram morar juntos. Alugaram um apartamento
minúsculo, onde mal cabiam os dois – e era isso mesmo que eles queriam. Juntos para sempre.
Passaram semanas esquecidos do mundo, entre o trabalho e o apartamento, onde viviam de refeições
pedidas por telefone e DVDs assistidos até a madrugada. Era o amor, dizia ele. É o amor, ela respondia.
Até que numa madrugada, especialmente cálida e movimentada, ela ficou subitamente tensa, deu um
salto da cama e exclamou:
– Você tem verruga!
– Tenho o quê?
– Verruga. Uma verruga horrorosa.
Ele tinha mesmo uma verruga no calcanhar esquerdo, já nem lembrava dela.
– É, tenho.
Ela acendeu a luz e saiu em busca do roupão, no qual se embrulhou, pudica.
– Por que não me disse antes?
– Por que eu deveria ter falado disso?
– Eu tenho horror a verrugas.
Ele tentou brincar:
– Você tem horror a verrugas. Eu tenho uma só.
– É o bastante. Você deveria ter falado disso.
– Da verruga?
– Da verruga. Estamos juntos há dois meses e você nunca me falou dela.
– Dela?
– Da verruga. É como se você mentisse para mim esse tempo todo.
– Mentisse? Mas você ficou doida, criatura? Eu tenho uma verruga, só isso.
– No tendão.
– Tudo bem. Outros têm verruga no dedo indicador – tentou novamente fazer uma brincadeira. Se ainda
fosse...
– Não faça piadinhas! É sério. Tenho fobia a verrugas.
– Não acredito. Você tem certeza de que não está brincando?
– Imagina! Não brinco com verrugas! É coisa séria.
Ela abriu o guarda-roupa, apanhou uma mala e começou a recolher suas roupas.
– O que você está fazendo? Perguntou ele.
– Vou embora.
– Por causa de uma verruga?
– Isso mesmo. Não suporto verrugas. Tenho fobia.
Ele se levantou da cama e, inexplicavelmente, se sentiu chocado com a própria nudez. Colocou a calça
do pijama. Aproximou-se dela. Ela gritou:
– Não me toque! Não ponha a mão em mim!
Ele abriu os braços, patético:
– Mas... E nossa paixão? Nossos sonhos? Nossos planos?
– Tudo acabado.
– Por causa de uma verruga?
– Por isso mesmo – disse ela, enfiando-se num jeans e numa camiseta.
– E se eu tirasse a verruga?
Colocando o tênis, ela dirigiu a ele um olhar cheio de pânico:
– Não adianta. Volta. Verruga é para sempre. Você corta aqui, ela renasce. Pula para outro lugar. Passa
de um dedo para outro. Sinto muito.
Arrastou a mala até a porta, apanhou as chaves e disse:
– Amanhã eu volto para pegar o resto das minhas coisas. Adeus.
Antes de fechar a porta, ela apagou a luz e ele ficou ali, de pijama, no meio da sala, no escuro. Sozinho.
Ele e a verruga.
(Texto retirado de Gazeta do Povo, Curitiba, 10/5/2009)
GABARITO 3 UEM/CVU – PAS/2011 Etapa 1
Caderno de Questões 3
GÊNERO TEXTUAL 1 – CARTA PESSOAL
Com base no texto Aquiles e a verruga, imagine a seguinte situação: você terminou um relacionamento
amoroso por uma causa banal, a exemplo da história apresentada no texto de apoio. Escreva uma CARTA
PESSOAL, com no máximo 20 linhas, em que você relembre os bons momentos ao lado da pessoa amada e
apresente argumentos tentando reatar o namoro. Nessa carta pessoal, seu destinatário deverá chamar-se
José ou Josefa e você, o remetente, deverá assinar como Maria ou Mário.
20


Sagot :

Caxinguinha do Sul, 10 de Janeiro de 1954.

Querido José,

Peço que, por favor, você leia a carta até o fim. Se eu sou digna disso? Claro que sim! Eu sei que você ainda me ama, então não desperdice um sentimento tão nobre, ainda mais vindo de uma moça tão jovem e bela (sou eu).
Não consigo passar nenhum dia sem pensar em nós dois. A cada amanhecer, lembro-me de nossas caminhadas matinais... A cada almoço, lembro-me do seu talento culinário e de seus deliciosos bolos de cenoura com cobertura de chocolate branco e amendoim... Sem falar em cada vez que eu olho meu porquinho da índia, e lembro-me da vez que ele quase arrancou seu olho! Ah, foi tão engraçado!
A questão é que o fato de eu me lembrar de você a cada momento mostra o quanto sinto sua falta, e isso é um reflexo claro de uma coisa: amo-te! Você deve se perguntar: Mas se ela me ama, por que terminou comigo? Meu bem, ambos sabemos qual foi o motivo. Como eu poderia me casar com um homem que tem a unha do dedo, mindinho do pé direito, roxa?! Eu sei que não é contagioso, mas já pensou no tanto que ele ficaria feio quando você colocasse um chinelo verde????
Mesmo com esse seu defeito, não posso viver sem ti, então peço-te: compre um novo estoque de meias e venha encontrar-me você sabe onde. Vamos começar uma nova vida.
Da sua, Maria

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Eu sei que algumas coisas parecem meio esquisitas, mas é essa a intenção mesmo! Quanto mais criativo nós formos na hora de escrever o texto, maior a nota fica!
Observe que aí tem a estrutura básica de uma carta: Data e localização, vocativo, corpo do texto, despedida e assinatura.
Fica aí a ideia para você se inspirar e fazer o seu :)